Casa 12 - O Mau Espírito

Finalmente chegamos à casa 12. Este é um lugar que eu pessoalmente demorei tanto tempo para entender que nem saberia contar ao certo.

Parte disso se dá pelo fato dela não fazer aspecto com o Ascendente - é como tentar ver o ponto cego no retrovisor, por isso tão difícil.

Por estar no reino solar, acima do horizonte, ela se relaciona com a mente e o espírito; mas temos de lembrar que é onde Saturno se alegra, estendendo a ela a sua essência - o que facilita compreender o nome 𝘬𝘢𝘬𝘰𝘴 𝘥𝘢𝘪𝘮𝘰𝘯, ou “mau espírito”. Na antiguidade, era uma casa relacionada às maldições que recaíam sobre nós, à escravidão e a diferentes formas de sofrimento.

Em seu polo oposto, a má fortuna, lidamos com fatores externos que recaem sobre nós num sentido mais corporal - doenças físicas e opressões. Mas os maus espíritos da casa 12 podem ser entendidos como fatores mais psíquicos que nos geram perdas, isolamento, autossabotagem e afetam nossa saúde mental. Fala-se muito sobre ser a casa dos inimigos ocultos, e o que é mais oculto do que nosso inconsciente e suas aflições, escapismos que se tornam vícios? Vício é algo que não admitimos ou escondemos até de nós mesmos.

Como Saturno, exilado no distante e sombrio Tártaro, varremos - ou somos varridos - para bem longe. O Senhor do Tempo ainda traz consigo uma das suas dolorosas significações: a necessidade. Seriam as experiências dos maus espíritos um dos caminhos necessários para o amadurecimento?

Se imaginarmos que na casa pivotal do Ascendente os planetas possuem muita força e energia, quando eles passam para a 12 em seu movimento primário, chegam em um momento de exaustão, como um maratonista que passou pela linha de chegada e precisa se atirar ao chão para recuperar o fôlego. Outra alcunha para este lugar é “entre mundos” (𝘮𝘦𝘵𝘢𝘬𝘰𝘴𝘮𝘪𝘰𝘴), por representar o momento do nascimento do nativo, tanto para a mãe como para a criança, uma vez que este signo se eleva no horizonte antes da separação dos dois.

Assim, nesse lugar ‘entre’ há um tipo de confusão ou indefinição de limites, de modo que as características dos planetas/signos aqui posicionados são mais difíceis de serem reconhecidas; logo, as projeções ocorrem facilmente. Por outro lado, podemos pensar em qualidades potenciais que são nossas, mas, por estarem tão distantes, não nos apropriamos delas.

Todas as casas cadentes remetem a viagens, mas esta se conecta àquelas que nos isolam - por isso hospitais, clínicas, prisões e exílios são sempre mencionados. Mas é válido lembrar que esse isolamento não é necessariamente punitivo - pode ser o movimento em direção a se encontrar ou se isolar para se recompor e recarregar, um lugar para você e sua psique.