Por estar abaixo do horizonte, reino da Lua, esta casa está relacionada ao corpo e à matéria e suas significações se interligam com as da casa oposta (11ª) que, por estar no reino do Sol (acima do horizonte), diz respeito ao espírito (daimon) e à mente. Para Firmicus, a quinta casa recebe o nome de Boa Fortuna (𝘈𝘨𝘢𝘵𝘩𝘦𝘛𝘺𝘤𝘩é) porque é a casa de Vênus, benéfico noturno que simboliza coisas boas.
Assim, o conceito de Fortuna também está relacionado à fisicalidade da nossa experiência e àquilo de bom que acontece ao nosso corpo. Por isso, é associada aos prazeres, romances, sexo e lazer. É ainda uma das significações primárias de filhos em um mapa, mas também podemos ver como a potência criativa do nativo além da fertilidade. Para Valens, por ser uma casa de boas ações, planetas benéficos ficam mais benéficos e os maléficos menos maléficos.
Coincidentemente (será?), se voltarmos às raízes proto-indo-europeias da palavra, chegamos no termo “𝘣𝘩𝘦𝘳” (“carregar” ou “ter filho”, no sentido inglês de “bear a child” ou “carregar criança”), que em grego seria 𝘱𝘩𝘦𝘳𝘦𝘪𝘯 e em latim 𝘧𝘦𝘳𝘳𝘦 ou 𝘧𝘰𝘳𝘴 (𝘧𝘰𝘳𝘵𝘪𝘴), esta última também ligada à fortuna. É uma ideia curiosa de que ter filhos e sorte andam juntos.
Na Grécia, as Moiras (𝘮𝘦𝘪𝘳𝘦𝘴𝘵𝘩𝘢𝘪, “obter por partilha ou sorte”), fiandeiras do destino, estavam acima dos deuses e conduziam o fio da vida e o quinhão que cada um receberia. Frequentemente eram agrupadas com Ilítia, a deusa parteira, e assim governavam também os nascimentos.
Porém, aos poucos, as Moiras perderam espaço no mundo grego para Tyché, a Sorte ou Acaso, muitas vezes representada como uma deusa cega - como a Justiça - que estava conectada ao verbo 𝘵𝘺𝘯𝘬𝘩𝘢𝘯𝘦𝘪𝘯, “alcançar por acaso, conseguir por sorte”, podendo ser compreendida como aquilo que obtemos ou alcançamos por decisão dos deuses.
O que fazemos com aquilo que a deusa Tykhé nos traz?
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