Aprendemos desde muito cedo que a palavra zodíaco tem relação com “zoo” e a “roda dos animais”, mas este pode ser um conceito um tanto incompleto. Embora zōdion seja o diminutivo de zōon (animal), o termo também era empregado antigamente com o sentido de “imagem, figura ou pintura” de algo. O sufixo de zoidion pode indicar tanto diminutivo quanto locativo. Neste último, um signo poderia também se referir ao lugar onde um animal ou imagem estaria localizado no céu.
Proponho uma reflexão sobre as imagens: por exemplo, podemos pensar na imagem do caranguejo relacionada ao signo de Câncer e seus desdobramentos simbólicos, mas devemos levar em conta que ela foi concebida num determinado tempo e cultura. No Egito, ainda que posicionado no mesmo segmento na eclíptica, a imagem evocada para este signo era um escaravelho; em um catálogo babilônico, o signo é citado como um lagostim, e também há menções à imagem da lagosta e até a de uma tartaruga.
Uma imagem também pode ser alterada por intenção, contexto sociocultural ou acaso. Em 1627, o advogado católico Julius Schiller publicou um atlas que alterava as figuras celestes para o imaginário cristão. Schiller substituiu as imagens das constelações, desde os 12 signos (como a de Câncer por João Evangelista), até menores, com imagens que incluíam a Arca de Noé (primeira imagem). Independente da equiparação simbólica de Schiller ter validade ou não, seu atlas não obteve grande aceitação e acabou caindo no esquecimento.
Psicologicamente, o poder de uma imagem não está em seu efeito literal, mas no que ela pode despertar em nós e em nosso processo de individuação. Jung diz que “todo processo psíquico é uma imagem e um ‘imaginar’ e essas imagens são tão reais quanto você mesmo é real”. Ao nos conectarmos a uma imagem pela arte, por um poema, ao pintá-la ou pela própria astrologia, nos colocamos a serviço dela. Porém, há um certo perigo quando reduzimos as imagens a convenções alegóricas e estereótipos (por vezes moralistas), usando a imagem em benefício de intenções individuais/egóicas em vez de psicológicas, ou seja, da ampliação da consciência.
Um símbolo tem a capacidade de nos levar para um lugar além do que o ego pode alcançar: o mundo da Alma. Chamamos de ‘idolatria’ quando nos identificamos com uma imagem alegórica para ter um ganho pessoal/egóico. Neste caminho, podemos acabar por perder o poder da imagem e do símbolo. Todo este poder vem da dimensão da Alma e não do ego - o poder de nos identificar com algo além do superficial. Seja qual for o tempo, a cultura ou a imagem em questão, personificar um símbolo ou um arquétipo não apenas ajuda a discriminação e o entendimento, mas também oferece uma outra via de acesso e de imaginação das experiências.
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